domingo, 29 de março de 2009

TEXTO DO LIVRO 'VERTIGENS DO VAZIO" de HELIO RODRIGUES

Na área educacional, professores do ensino formal, por exemplo, medem as aquisições de seus alunos, pela capacidade que eles possam ter ou não de absorver os conteúdos propostos e repeti-los dentro da série escolar correspondente. Assiste-se, portanto a uma espécie de nivelamento padrão onde alguma “medida” é eleita como referência para se concluir se houve ou não “conquista”. Essa medida se dá quase sempre através dos conhecidos resultados aos quais muitos de nós estamos programados e infelizmente acostumados. Em geral algum critério “moderno” que estabelece um novo padrão avaliador.
Quando lidamos com indivíduos razoavelmente semelhantes, se é que eles existem, essas medidas de referência podem, quem sabe, fazer algum sentido; apesar de que, pessoalmente acredito que mesmo aqueles ditos “normais”, por serem considerados “semelhantes” à maioria, perdem muito com esses critérios padronizadores, já que, suas naturais características individuais (não detectadas) acabam sendo pasteurizadas por esse processo formador de indivíduos preparados para pensar e cumprir objetivos.
Quando ao contrário, consideramos fértil a troca que a diversidade humana provoca, passamos naturalmente a acreditar na inclusão das diferenças dentro dos meios educacionais, sejam eles formais ou não.
Na realidade, o que observamos é que “diferentes” estão constantemente sendo discriminados e subestimados em seus talentos e competências, por não se alinharem com a “medida” que foi estabelecida como normalidade. Ao mesmo tempo, será que os ditos “normais”, aqueles que parecem corresponder às expectativas de seus educadores, estariam realmente se beneficiando com essa relação e condutas tão reduzidoras e direcionadoras ao previsível?
Até que ponto, respostas certas podem significar medida de desenvolvimento intelectual ou criativo de um indivíduo?
Até que ponto, semelhanças produzem realmente indivíduos?
Por não apresentarem, “resultados” coerentes com os padrões determinados, os “diferentes” também não trazem as confirmações esperadas por seus mestres, reduzindo ou frustrando as expectativas do profissional formal que se preparou para avaliar resultados de seus alunos e dele próprio, considerando apenas o produto final e desconsiderando muito ou todo o processo experimentado. Aprisionados pelo “conhecimento adquirido”, educadores se afastam de seus próprios processos criativos e não enxergam outras formas de comunicação e linguagem do que as contidas no óbvio.
Helio Rodrigues (artista plástico e arte-educador)

Nenhum comentário:

Postar um comentário